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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Turismo científico é opção para Araçatuba

Foto: Tim Brooke
Quem como eu já mora nesta cidade há um bom tempo, deve estar familiarizado com as infrutíferas tentativas de transformar Araçatuba numa Estância Turística. Não tenho certeza, mas é bem provável que todas as administrações municipais que se sucederam nos últimos 25 anos tenham tentado conseguir esse status. Como sabemos, sem nenhum sucesso. 

Não é de fato fácil reconhecer em Araçatuba as características necessárias que a transformem em pólo de atração turística. Quem inicia sua visita desde nossa rodoviária não deve ter uma impressão positiva. E descobrir que esse mesmo prédio mal cuidado é a sede do governo municipal não ajuda muito.

Desde o ponto de vista urbanístico, não se observa um planejamento definido, nem um desejo real –salvo poucas e honrosas exceções nascidas fundamentalmente de iniciativas individuais - de criar espaços públicos que embelezem a cidade. Aqui, como na maioria das cidades do Brasil, priorizamos os espaços particulares - casas, condomínios, ranchos - em detrimento do espaço público, que em vez de ser de todos, parece ser de ninguém. Mas turistas visitam cidades, e não fazendas ou clubes particulares.

Em termos de belezas naturais, décadas de uma economia baseada na produção extensiva de gado seguido agora pela monocultura de cana de açúcar, transformaram nossa paisagem natural nisso que vemos no longo trecho da Rodovia Marechal Rondon, já desde Bauru. Um enorme oceano de pastagens e cana, com quase nada de mata nativa. Já a parte que nos toca do Rio Tietê é de difícil acesso e parece não representar atrativo diferencial suficiente para trazer turistas.

É difícil enxergar uma solução a curto prazo para resolver esses problemas. Transformar a cidade mediante um plano urbanístico que priorize os espaços públicos, embora necessário, pode levar décadas e recursos que não existem, além de uma mudança de mentalidade. Recuperar o meio ambiente já tão degradado é também uma medida necessária, mas na pouco crível hipótese que venha a ser implementada os resultados começariam a aparecer apenas em décadas.


Nesse contexto, a opção de turismo científico faz um enorme sentido. Algumas cidades do mundo fazem desse tipo de turismo temático um forte chamariz. Já mencionamos aqui o caso de Valencia, na Espanha (800.000 habitantes). A partir das últimas décadas do século 20 via sua economia decair e o número de habitantes diminuir. Entre as opções para reverter essa situação, as autoridades valencianas construíram a “Ciudad de las Artes y de las Ciencias”, um belíssimo conjunto arquitetônico onde, como o nome indica, o visitante passeia entre exposições científicas e artísticas de todos os tipos.

Ciudad de las Artes y de las Ciencias, em Valencia, Espanha,
projeto arquitetônico de  Santiago Calatrava e Félix Candela


Até 2003 (o complexo foi inaugurado em 1998) já tinham sido investidos 400 milhões de dólares. Mas o retorno foi extraordinário. Em quatro anos, só o museu de ciência tinha recebido sete milhões de visitantes! Além disso, a cidade capitalizara 500 milhões de dólares em investimentos desde que o centro fora projetado. Foram construídos mais de 30 hotéis, cinco mil apartamentos e um shopping center. Com isso, foram gerados em torno de 16 mil empregos diretos, além dos benefícios indiretos.

Todos esses números são de tirar o fôlego, e não temos a utópica pretensão de imaginar em Araçatuba algo dessa magnitude. Mas ilustra como esse tipo de projeto pode conciliar educação, cultura, turismo e dinamismo econômico. E não é exclusividade dos países ricos. Existem experiências semelhantes em México, Colômbia ou Uruguai, países com realidades sócio-econômicas semelhantes às nossas, e vários no Brasil. Em Porto Alegre, por exemplo, uma das principais atrações turísticas é o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica. Em São Paulo, o Espaço Catavento faz parte de um roteiro de turismo científico que inclui planetários, aquários e centros ligados à USP, como a Estação Ciência. Brotas, aqui pertinho, também investe em um turismo semelhante, através do projeto CEU.

Aspecto interno do Museu de Ciências e Tecnologia da
Pontifícia Universidade Católica em Porto Alegre, RS 


Anos atrás pensamos em uma solução semelhante para nossa cidade, em parceria com a UNESP. O projeto arquitetônico, encomendado a um dos principais arquitetos museológicos de São Paulo, pode ser visto neste blog , junto com os outros centros citados neste artigo. 


Um espaço como esse - parceria entre a UNESP, o poder público e a iniciativa privada- poderia dar a nosso município o atrativo diferencial para torná-lo pólo turístico regional, com o concomitante incentivo à atividade econômica. Além de um espaço difusor da cultura da ciência, peça fundamental para a construção das “Sociedades do Conhecimento”, poderia ser o local adequado para que a indústria da região exibisse seu compromisso com a ciência, a tecnologia e a inovação .

Aspecto externo do Museu Interativo de Ciências de Araçatuba,
 projeto arquitetônico idealizado pelo arquiteto paulistano
 Vasco Caldeira. O display multimídia externo exibe
 futuras exposições e os patrocinadores do Museu.



Aspecto externo do Museu Interativo de Ciências de Araçatuba,
 projeto arquitetônico do arquiteto Vasco Caldeira


Aspecto interno dos espaços expositivos do
Museu Interativo de Ciências de Araçatuba  (arquiteto Vasco Caldeira)










Planta do projeto para o Museu Interativo de Ciência de Araçatuba..
O espaço, de 1.200 metros quadrados abriga áreas expositivas,
 planetário, café e loja entre outros.



Planilha de custo (estimativo).

Enfim, trata-se de um projeto moderno, exequível e inovador, que em cinco anos seria capaz de estar já funcionando e transformando nossa realidade. Uma proposta concreta de educação e desenvolvimento científico e tecnológico. Um passo certo em direção ao progresso aliando educação, inovação e sustentabilidade. 

Como aconteceu 100 anos atrás, o trem da história pode passar por aqui. Resta esperar que encontremos os novos “Fundadores”.

10 comentários:

  1. Diria que é no mínimo umas das propostas mais interessantes que já vi para a cidade, por todos os aspectos: social, educacional, econômico, tecnológico. Se a devida importância for dada ao projeto, pelas autoridades e sociedade civil, poderá ser o marco de uma nova fase para Araçatuba!

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  2. Primeiramente gostaria de parabenizar o blog e em especial este artigo. De fato se formos analisar o que existe de turístico em Araçatuba, não iremos contabilizar nada. A cidade sofre muito disso e de demais fatores. Infelizmente o monopólio é algo que se mantém ainda na cidade, tanto em termos de canais de televisão, jornal, pessoas no poder e pessoas que detém interesses pela cidade.
    Acredito que não apenas temos de esperar os novos fundadores, como diz o último parágrafo do artigo, como também devemos ser nós mesmos os fundadores. O grande problema é que quando vamos tentar fazer algo para melhorar a cidade, em particular tentar levar algo de ciência ao conhecimento da população, entrando em contato com pessoas que deveriam nos proporcionar meios para isso, damos de encontro com uma barreira interminável de obstáculos, que até parecem serem feitos de propósito para nada evoluir na cidade.
    Sempre tive a intenção e continuo tendo de levar pequenas colunas ou mesmo realizar algo de mais concreto no que diz respeito à física para a população da cidade, mas infelizmente na maioria das vezes me confronto com pessoas mal interessadas, em particular da prefeitura.
    Atualmente publico minhas colunas no site do inape, http://www.inape.org.br/colunas, mas confesso que gostaria de poder fazer mais, no sentido de realizar um curso ou algo do tipo.
    Bom, parabéns novamente pelo artigo.

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  3. Gosto muito da cidade onde moro mas nao a vejo como destino turistico , como viajo sempre em companhia da minha sogra , quando voltamos ,de qualquer destino,a partir de Bauru ela se recusa descer em qualquer posto da Rondom , nao tem condições, todo turista quer um minimo de respeito até mesmo no trajeto.

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  4. Obrigado pelos comentários. O projeto está pronto para sair do papel. Foi apresentado aos últimos três prefeitos, Maluly, Marilene Magri e Cido Serio, mas até agora, nada (Marilene foi a mais entusiasmada com a ideia, mas ficou pouco tempo). Outros municípios já perceberam a importância de projetos como estes e estão correndo atrás, buscando parcerias com iniciativa privada, universidades...
    É incrível... Com 3 mi mudávamos a cara da cidade, com um projeto olhando para o futuro. A universidade pública é uma boa parceira, mas se não houver interesse do poder público local, nada feito.

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  5. Ao ler o seu texto sobre turismo científico lembrei-me do nosso zoológico municipal Flávio Leite Ribeiro e da sua situação precária e fora das normas estabelecidas pelo IBAMA. Muito se fala sobre a revitalização do local, mas até agora nada de concreto ocorreu.

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  6. Roelf, você acredita em coincidências?
    Este seu artigo sobre turismo científico foi publicado no dia 24 de Junho de 2011.

    Pois bem. No dia 24 de Junho de 2007 eu publiquei um pequeno texto no meu BLOG pessoal com o mesmo tema!

    http://tinyurl.com/3n9ac8x

    Infelizmente, nada aconteceu em quatro anos...

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  7. Sua ideia é ótima porém nosso governo não tem o interesse de ter uma cidade boa em nada nem a iniciativa privada vai investir pois para ela uma Araçatuba feia ou bonita tanto faz.

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  8. Araçatuba perdeu a implantação do SESC para Birigui. Os recursos públicos são sempre uma forma política de agradar a terra natal de senadores e deputados, aqui é a única região que não tem representante em Brasília ou São Paulo estamos órfãos a muito tempo...

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  9. Olá;
    É muito bom ver que algumas pessoas estão interessadas em levar algo assim para Araçatuba. O INAPE faz um belíssimo trabalho, e espero que seu evento anual nunca deixe de existir. Porém, infelizmente, acho que devemos ser francos e assumir que a grande maioria da população da cidade não tem interesse nenhum por isso. Sou nascido em Araçatuba e formado em física na UFSCar, atualmente terminando meu mestrado. Araçatuba tem muitas pessoas formadas em boas instituições públicas e que poderiam fazer algo pela cidade. Afinal de contas, TODOS as pessoas que passam por uma universidade pública tem que ter consciência de que é o POVO brasileiro que fornece a ele condições de ensino, a grande parte desse POVO nunca terá seu filho em um lugar de ensino como uma universidade pública. Porque, querendo ou não, quem mantém os alunos, os pesquisadores e tudo mais na universidade pública são, na maioria, trabalhadores como cortadores de cana e similares. Dito isso, acho que os formados que residem são de Araçatuba deveriam ter uma consideração maior pelo dinheiro público. Eu tenho um sonho, e assim que tiver condições irei colocá-lo em prática com certeza: Irei fundar em Araçatuba um centro de ensino avançado em física, onde alunos poderão ter contato com a física mais avançada do que aquela do ensino médio. Tudo isso sem fins lucrativos e de modo que os alunos sejam voluntários. Acredito que isso é uma forma de retribuir para a população que ela gastou e gasta comigo, pagando seus impostos. Bom, dessa vez era isso que tinha para falar..... disse outras coisas em um outro comentário acima.
    Até

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  10. Obrigado Jonas, e vamos continuar tentando!!

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