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sábado, 9 de novembro de 2013

Fé causa depressão

Nada como uma manchete sensacionalista para despertar interesse. Que o diga a turma da revista Superinteressante, que estampou na capa da sua última edição a conclusiva afirmação “Fé faz bem”. Uma pena. Temos poucas revistas de divulgação científica. Seus editores deveriam ser mais cuidadosos e não transformar evidências fracas em verdades definitivas. 

Mas vamos direto ao assunto. Por que estou colocando em dúvida aqui a veracidade da manchete da revista? Ao final, ter fé contribui para nossa saúde mental e com isso, claro, nossa saúde física? O que a ciência pode dizer sobre isso?

Temos de fato alguns estudos que apontam que a prática religiosa contribui para o bem-estar psicológico. Este bem-estar parece melhorar inclusive alguns aspectos do nosso sistema imunológico. Mas ao analisar mais criteriosamente esses estudos observamos que quase todos foram realizados em Norte-América  utilizando indivíduos caucasianos de origem católica ou protestante. Assim, é muito difícil generalizar esses resultados aos diferentes contextos culturais. E se algo aprendemos nestes anos é que a cultura em que estamos inseridos é capaz de modificar nossas redes neurais, e com isso nosso comportamento, sentimentos, reações e emoções.

Outro aspecto importante é que os resultados positivos da religiosidade –que são estatisticamente apenas marginalmente significantes- parecem estar mais relacionadas com a realização de atividades em grupo que com a fé propriamente dita. Somos animais gregários e conviver em grupos nos faz muito bem. Os efeitos positivos da religiosidade são menos evidentes quando os indivíduos optam por uma prática espiritual individual e prescindem do contato com outras pessoas, contato que se obtêm, por exemplo, nas religiões institucionalizadas.

Estes aspectos não são sequer citados na reportagem da Superinteressante, embora já tenham sido levantados pela comunidade científica.

Estranhamente também, a revista não cita o estudo mais recente e amplo feito sobre o assunto. Nele foi analisada a relação entre as crenças religiosas ou espirituais e o aparecimento de episódios de depressão. Como esta é porta de entrada para várias outras disfunções psicológicas, se a prática religiosa ou a espiritualidade “fizessem bem” (como afirma a manchete da revista) o número de indivíduos com depressão seria menor entre pessoas de fé.

A diferença dos estudos anteriores, este incluiu um número relativamente grande de indivíduos (8318), de várias nacionalidades (Reino Unido, Espanha, Chile, Eslovênia, Estônia, Holanda e Portugal) em diversos contextos culturais e socioeconômicos.

Os autores dividiram os participantes em três grupos: 1) os que praticavam uma religiosidade institucionalizada (frequentando igrejas, templos, etc.,); 2) os que não seguiam nenhuma religião mas tinham crenças e experiências espirituais (por exemplo, eles acreditavam na existência de um poder ou força além deles mesmos, o qual poderia influenciar suas vidas); e finalmente o grupo 3, dos seculares, que não manifestavam crença em qualquer religião nem força sobrenatural capaz de influenciar suas vidas. Foi solicitado também aos membros dos grupos 1 e 2 que, de 1 a 6, dessem uma nota à intensidade da sua fé.

Os resultados como era de se esperar variaram bastante entre países, mas em média a maior frequência de episódios depressivos foi observada nos membros do grupo 2 (pessoas com fé mas sem religião específica). Neste grupo 10,5% apresentaram pelo menos um episódio de depressão ao ano, contra 10,3% do grupo 1 (pessoas religiosas que frequentavam igrejas), e os menos deprimidos foram os seculares, com apenas 7,0% tendo episódios depressivos. No Reino Unido estas diferenças foram mais significativas, com os membros do grupo 2 tendo uma frequência de crises depressivas três vezes maior que o grupo secular. A intensidade da fé também afetou, sendo que aqueles que tinham uma fé mais intensa apresentaram um risco de depressão que era o dobro em relação àqueles que tinham fé menos intensa.

Os autores concluem que estes resultados não sustentam a ideia que uma vida religiosa ou espiritual seja capaz de melhorar o bem-estar psicológico. Ainda, observaram que a crença religiosa não exercia nenhum efeito moderador no impacto que eventuais acontecimentos dramáticos em nossa vida poderiam ter em relação ao aparecimento ou não de episódios depressivos.

Será que estes resultados justificam a manchete que escolhi para este artigo? Não! Propositalmente forcei a barra. As diferenças estatísticas são muito pequenas (salvo no Reino Unido) e seria impossível que um único estudo elucidasse um aspecto tão complexo. A conclusão dos autores é um exemplo de cautela científica, os resultados apenas não validam a hipótese que religiosidade melhore nosso bem-estar psicológico, mas eles não concluem: fé causa depressão. É assim que se faz.

Mas por outro lado, quando vejo milhões de pessoas em nosso país sendo ludibriadas, acreditando em milagres comprados e deixando boa parte de seu pouco dinheiro para financiar o atraso que representa um estado regido por crenças religiosas, devo reconhecer que sim, fé causa depressão!



Fonte: Spiritual and religious beliefs as risk factors for the onset of major depression: an international cohort study. B. Leurent e cols., Psychological Medicine; 43:2109 – 2120; 2013.

48 comentários:

  1. Professor, muito elucidativo seu artigo, pois é uma questão muito levantada ultimamente,. Parabéns pelo artigo, publicarei em meu blog. :)

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  2. É uma pena. Na maioria das vezes, parece que quanto mais um tipo de publicação faz sucesso, menor é a sua credibilidade.

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    1. É sempre assim Rafael, é o que dá confundir esperanças com fatos.

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  3. Todo pesquisador deve ter muito cuidado, como o senhor mesmo aponta, com os resultados de uma pesquisa.
    Tenho uma pergunta: O senhor não descreveu bem o que a pesquisa do Psychological Medicine buscou conhecer?
    O assunto em questão é da área da psicologia, principalmente, não é? Desta forma, entendo que a espiritualidade, quando "bem praticada", CERTAMENTE, auxilia o bem estar psicoemocional! Tanto quanto a meditação, o yoga e qualquer outra prática cujo objeto é o ego.
    Segue trecho do link: http://obarbeiro.com.br/?p=1180 que gostei muito e acredito ser bastante esclarecedor.
    "A falta de capacidade plástica do ego em assumir as transformações que a vida impõe que leva a depressão e ao sentimento de fé.
    Assim a moral religiosa condiciona o pensamento humano em sua manutenção em considerar o conhecimento sob a dicotomia dos opostos, gerando o sentimento de culpa, medo e depressão. Esta tem sido a nossa maior fé, ou maior crença.
    Quando observamos a depressão em algum indivíduo sempre a colocamos sob esta ótica por ele não estar dentro do padrão socialmente estabelecido. Concluímos dai o seu sofrimento, sua doença e seus aspectos negativos, colocando novamente a crença nos mesmos valores da maioria como uma solução para os seus problemas.
    Como na dependência das drogas psicotrópicas, a fé entra para regularizar o fenômeno da depressão. Neste aspecto a Psicologia não agiu diferente da religião. O que toda religião quer, assim como a terapia nesta aspecto é o controle das emoções. Questões como perdão e gratidão são apenas esta relação de dependência. Crer numa entidade superior que zela por nós como enfrentamento das dificuldades nada mais é que este modelo mental.
    Assim a sociedade gera a depressão decorrente destes mesmos modelos mentais oferecidos como cura."
    Percebo que os problemas de depressão são muito mais complexos do que apontado, simploriamente, pela pesquisa ou pelas pesquisas. Requer uma análise complexa dos indivíduos. Requer uma analise psicológica, levando em conta a forma como os indivíduos lidam com a espiritualidade, o ego e os problemas que afetam o seus estados psico-emocionais. Dizer-se ser espiritualizado é o suficiente para garantir realmente que as pessoas são. O que um indivíduo revela é o suficiente para conhecê-lo melhor e garantir que ele realmente possui muita espiritualidade?
    Quando se fala de ser humano, faz-se necessário ter bastante cuidado para não se ter resultados diversos da realidade e, consequentemente, da VERDADE que se QUER conhecer!
    Valeu

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    1. Anônimo, vc leu o artigo citado nesta coluna? Caso contrário fica difícil argumentar e contra-argumentar.
      Vlw

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    2. É.. o ser humano é complicado de trabalhar né rs Ainda bem que tem os mais fáceis. Acho que muitos de nós complica, talvez a maioria. Por isso, quando tem alguém que foge dessa provável loucura, ele acaba sendo o diferente e o louco, ou doente, que não se encaixa na sociedade. Pra piorar, este pode, ainda representar uma ameaça a própria sociedade quando resolve se vingar e agir como psicopata. Tivemos casos assim no Brasil. Quem não lembra, por exemplo, dos assassinatos e do suicídio do Realengo (um dos mais recentes que teve bastante repercussão da imprensa)? Apontar uma certeza quanto a esse tipo de problema é praticamente impossível. Pelo menos por enquanto. Vemos aqui o tanto que um ser humano pode ficar complicado e obscuro, pois entendo conversar com ele está longe de ser o suficiente para decifrá-lo.

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  4. Sim e repito: "Dizer-se ser espiritualizado é o suficiente para garantir realmente que as pessoas são. O que um indivíduo revela é o suficiente para conhecê-lo melhor e garantir que ele realmente possui muita espiritualidade?"
    O que diz a coluna acima: "Foi solicitado também aos membros dos grupos 1 e 2 que, de 1 a 6, dessem uma nota à intensidade da sua fé."
    As questões de ordem espiritual são algo subjetivo, por isso, de difícil percepção. Um pesquisador não terá evidências concretas se as respostas correspondem com a realidade, visto que terá que acreditar no nível de espiritualidade apontada por cada um dos indivíduos, o que cai na subjetividade e não na objetividade que se quer chegar ao concluir alguma coisa.
    Peço que argumente sobre as questões subjetivas atinentes ao campo de pesquisa e os resultados chamados de concludentes, por assim dizer. Da mesma forma apresentado no começo da coluna, "Seus editores deveriam ser mais cuidadosos e não transformar evidências fracas em verdades definitivas." é aplicável nesse caso.
    Ao meu ver, faz-se necessário uma pesquisa mais profunda e complexa para se tirar conclusões de toda sorte.
    Valeu!

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    1. Sempre se faz necessário uma pesquisa mais profunda. A boa ciência responde parcial e temporariamente algumas questões, apenas para poder fazer perguntas melhores.
      A diferença entre a reportagem da Superinteressante e a do artigo acima me parece óbvia. A primeira conclui categoricamente "Fé faz bem". A segunda "estes resultados não sustentam a ideia que uma vida religiosa ou espiritual seja capaz de melhorar o bem-estar psicológico". Simplesmente, hipótese não foi corroborada pelos resultados do experimento. Ponto.

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  5. Acredito que a segunda seja mais "honesta" intelectualmente do que a primeira. Porém, subjetivamente falando, se posso dizer dessa forma, as questões relacionadas à fé e espiritualidade, SE BEM TRABALHADAS, podem ser fatores de benefícios no campo da análise da saúde geral do indivíduo, visto que trabalham o estado psico-emocional, tanto quanto a psicologia e a psquiatria. Porém, o remédio, naquele caso, são os trabalhos mentais proporcionados pela busca de trabalhar o ego do indivíduo via religião, meditação, yoga, filosofias diversas etc.
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    Sentir-se triste é normal. Agora sentir-se deprimido é doença que precisa de tratamento.
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    No entanto, a depressão, ao meu ver, é bastante variada, diferenciando-se de pessoa para pessoa. O diagnóstico deve-se levar em conta a história de vida da pessoa, as preocupações que ela tem e como ela trabalha essas preocupações e tristeza.
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    A fé é um instrumento que as pessoas podem utilizar para se tratar desses problemas psico-emocionais. Contudo, ela continua sendo SUBJETIVA e, em muitos casos, se levada a um estado exagerado, até danosa.
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    Eu mesmo, estive num estado pré-depressão este ano. Ou seja, entrei num nível alto de ansiedade comecei a ter sentimentos de que tudo iria me causar algum mal, até que consegui me encontrar, via fortalecendo da minha espiritualidade. Os efeitos foram sobre a minha tranquilidade, confiança e alteração da visão dos fatos que deveriam ser tratados como importantes ou não importantes e relevantes ou não relevantes de atenção.
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    Consultei, por dois meses, um psicóloga, mas o que REALMENTE me fez recuperar, sair daquela situação, foi esse encontro com o meu "eu", por meio de meditação, leitura sobre filosofia e orações.
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    Não é que seja a VERDADE, mas ACREDITO que, se a ciência quer realmente conhecer os efeitos da fé, deveria estudá-la a fundo, junto aos INDIVÍDUOS EXEMPLO. Ainda assim, seriam encontradas situações de tristeza, porém, dificilmente, de depressão.
    Valeu!

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  6. Professor Roelf, o que o senhor entende sobre o que é a fé? O que o senhor pensa sobre o que ela pode fazer sobre o estado psico-emocional de uma pessoa?
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    Parece-me que a visão de estudiosos da ciência, no que se refere a muitas coisas, tem ido na direção do cérebro e não do espírito. Entendo ser bastante precária essa assertiva, pois certas experiências, no sentido de sentir as coisas e refletir "internamente" dando -lhes siginificado e resposta junto as suas ações e sua própria vida, tem se revelado fator de transformações da conduta e atitude da pessoa perante a vida. Experiências estas que foram "decodificadas" pela prática bem conduzida da espiritualidade. Boa praticada no sentido de equilibrada, sem excessos.
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    Acredito que a ciência tem um palco de observações bastante limitado. O senhor não acha? Só percebe aquilo que é naturalmente perceptível. Todo o resto cai no campo das suposições e subjetividades, da mesma forma que as explicações espiritualistas. Contudo, tenho percebido que, por serem respotas da ciência "parecem ter maior credibilidade". Aí discordo, pois a ciência não é a senhora da VERDADE e as experiências individuais não PODEM ser vistas como IRRELEVANTES de estudo, de análise.
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    Percebo que grandes nomes do passado, em diversas áreas do conhecimento, tem tido pouco crédito junto aos "senhores da comunidade científica". Parece-me que os cientistas estão ficando arrogantes intelectualmente. O passado ficou no passado e ponto final?
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    Ah! O senhor não acredita que Fé causa Depressão é tão sensacionalista quanto Fé faz bem? Parecem dois lados opostos querendo afirmar algo tão difícil de ser observado, dada a subjetividade das experiências individuais doas pessoas pesquisadas.
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    Sou o anônimo que escreveu os dois posts anteriores.
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    Por favor comente.
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    Meu nome é Augusto Ferreira

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    1. Ah, e claro, não existem evidências científicas sobre a existência de um espírito separado do corpo físico (isto não quer dizer que não exista). Pelo que sabemos até hoje na neurociência, mente ou consciência é o que o cérebro faz.

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    2. Obrigado pela resposta. Gostei muito, pois foi coerente e bastante imparcial, denotando total senso crítico de um bom pesquisador.
      Abraço.
      Augusto Ferreira

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    3. Oi Augusto, neste contexto, fé é a crença mesmo ante a falta de (ou às vezes contra todas as,,,) evidências.
      Sobre a manchete, conforme esclareci no texto, foi uma forçada (proposital) de barra. Quis mostrar apenas como NÃO deve ser feito. Isso está no texto.
      Abraço e obrigado pela visita.
      (Obs.: e sim, a ciência estuda o mundo natural. A "cura pela fé" passa a ser natural quando se alega uma cura mensurável. Quando o misticismo invade o mundo natural, aí é possível analisar comparativamente as respostas científicas (baseadas em evidências) e as não científicas, baseadas em crenças.

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    4. Professor, sou eu de novo, Augusto.
      O senhor diz que consciência é o que o cérebro faz. Contudo, parece que existem muitas dúvidas a respeito disso. O senhor tem alguma publicação científica que verse sobre esse assunto? Pesquisei e cai no "site" http://hypescience.com/8-coisas-que-nos-simplesmente-nao-entendemos-sobre-o-cerebro-humano/. Aí, fiquei com mais dúvidas!
      Valeu!

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    5. Ah! Tem esse site também. "http://hypescience.com/26362-consciencia-cerebro/".
      Por favor, me responda!
      Obrigado!
      Augusto

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  7. Oi Augusto. O problema da consciência talvez seja o maior desafio para o conhecimento humano. Ao que parece, os outros "hard problems" como o conhecimento sobre a origem do universo e da própria vida estejam sendo "menos" problemáticos que o estudo da consciência. Nós não sabemos como o funcionamento do cérebro gera a consciência humana. Há um hiato entre o que sabemos sobre sensação (bastante) e percepção (pouco). Mas nos últimos 40 anos tivemos uma revolução na neurociência, com tecnologias fantásticas na área básica e clínica. Todas as evidências indicam que a consciência humana (e dos outros primatas e animais, claro) nasce do funcionamento do órgão mais complexo do universo conhecido:o cérebro. Veja que outras teorias místicas de explicar a consciência não podem ser falseadas, deixando de ser teorias científicas. Eu recomendo que vc leia os livros do Antônio Damásio, e os do Ramachandran. Eu vou postar umas TEDs aqui e na coluna ciência que são muito legais. Enquanto olha esta da Rebeca Saxe. http://ciencia.folhadaregiao.com.br/2011/08/nossa-moralidade-e-uma-reacao-quimica_14.html

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  8. Olá Roelf! Bom texto. Acredito não ter o que acrescentar em relação ao texto e em particular ao último parágrafo, o que, lamentavelmente, é a pura verdade do Brasil. O que eu gostaria de lhe perguntar é sobre o trabalho citado e cuja conclusão dos autores você comenta no terceiro parágrafo, de baixo para cima.
    A ciência, tanto a física como, acredito, qualquer outra, trabalha em base em definições rígidas. Se uma definição não é tão rígida, ela da margem para interpretações dúbias e que normalmente nos conduzem à falsas conclusões. Assim, antes de se falar em vida espiritual, não seria mais apropriado, em termos de ciência, definir rigidamente o que é espirito? É possível falar em vida religiosa, pois é possível dar uma definição clara de religião, mas e sobre uma vida espiritual? Talvez seja algo irrelevante, mas acredito que quando todas as definições estão claras, fica mais fácil dar uma interpretação correta ao que está sendo abordado. (Na verdade foi mais um comentário ao trabalho citado do que uma pergunta, mas enfim.)
    Abraços!

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    1. Oi Jonas. Obrigado pela tua colaboração com este blog. É bom sempre ter alguém de exatas por aqui rsrsrs.
      Vc está certo. A ciência não tem uma definição do que seja espírito, fundamentalmente no contexto místico desta palavra. Se "espírito" se refere a algo sobrenatural, está fora da alçada do método científico. Se "espírito" é sinônimo de mente ou consciência ou self, aó é outra história. Já sobre o conceito de uma "vida espiritual" te passo a definição dos autores descrita na metodologia do estudo:
      "Religious and spiritual beliefs
      The self-report version of the Royal Free Interview
      for Spiritual and Religious Beliefs (King et al. 2001)
      examines religious affiliation and practice, and spiritual
      beliefs whether or not in the context of religion. In
      this study only the first three items of the questionnaire
      were used. Before the questions are posed the
      respondent reads an introductory statement: ‘In using
      the word religion, we mean the actual practice of a
      faith, e.g. going to a temple, mosque, church or synagogue.
      Some people do not follow a religion but do
      have spiritual beliefs or experiences. For example, they
      believe that there is some power or force other than
      themselves, which might influence their life. Some
      people think of this as God or gods, others do not.
      Some people make sense of their lives without any
      religious or spiritual belief’. On the basis of this statement,
      respondents were asked to indicate whether
      their understanding of life was primarily religious,
      spiritual, or neither religious nor spiritual (this latter
      category will be referred to as ‘secular’). If religious or
      spiritual they were then asked to indicate whether
      they regarded themselves as having a specific religion.
      People with a spiritual life view may identify themselves
      with a religion, even if they do not practice it.
      Finally, religious and spiritual participants were asked
      to indicate on scale from 1 to 6 how strongly they held
      their life view"

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    2. Olá Roelf, muito obrigado pela resposta!
      Eu pessoalmente não creio ser possível relacionar espirito com mente, ou algo do tipo, a não ser que seja meramente um jeito de chamar mente, o que acho que não é o caso das pessoas que tentam fazer conexão entre estes dois conceitos.
      Abraços!

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  9. Caros,
    Tenho F33 (depressão recorrente) a 10 anos, e sempre fui católico convicto desde então. Neste ano antes mesmo de tomar conhecimento sobre qualquer tipo de publicação sobre a fé que causa depressão, decidi em um episódio de tremenda melancolia e desespero deixar a religião de lado e racionalizar técnicamente sobre meu problema, li livros de neurociencia, cérebro (função, transtornos...) e a partir do momento que comecei a entender o porque das sensaçoes físicas, de ansiedade e desespero, consegui de certa forma amenizar e controlar estas com serenidade e muita frieza, julgando a minha doença simplesmente como um transtorno psicológico e não mais como uma possessão demoniaca ou algo do tipo. Sendo que quanto mais eu sei sobre mim mesmo e o meu cérebro os fatores etiologicos aparentes tendem a diminuir no meu conceito.
    Quem se desespera mais em vélorio de um ente querido? Um ateu ou um cristão?
    O cristão olha pro céu e diz:
    - Porque meu Deus?
    Cantorias começam na hora de fechar o caixão:
    - Segura na mão de Deus e vai...
    Isso acaba que de certa forma mexendo muito com a emoção dos presentes, levando-os as lágrimas e a inconsolável tristeza.
    Um ateu aceita o fato que aquilo acabou ali. Claro, ficam tristes mas não a ponto de se martirizarem, e seguem a vida de forma racional.
    Me afastar da fé me ajudou consideravelmente com minha depressão.
    Espero ter contribuído



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    1. Ótimo testemunho Renato. Obrigado pela visita!

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    2. Teu relato é interessante. Contudo, acredito que o problema era a sua visão sobre a vida e o mundo. Talvez, a tua religião o limitasse nesse entendimento das coisas. Porém, ao meu ver, espiritualidade não tem a ver (DIRETAMENTE E OBJETIVAMENTE) com religião, pois, muitos não buscam conhecer a si mesmos, o que é um dos objetivos do espiritualista, mas somente repetem aquilo que os seus pastores, padres e outros dizem sobre o que eles devem saber e fazer para receber isso, chegar em tal lugar etc.
      No meu caso, a espiritualidade ajudou.Valeu!
      Augusto Ferreira

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    3. Parabéns!
      De fato, o conhecimento do próprio corpo é algo que acredito todos deveríamos levar a sério desde pequeno. Abraços!

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  10. De fato, uma criança que acredita no Papai-Noel é mais feliz do que uma que não acredita. A pesquisa não está errada. Pelo contrário, está certíssima.
    Mas prefiro a dureza da realidade, do que a alegria de acreditar em algo que não existe.

    "Dizer que um crente é mais feliz do que um cético, é o mesmo que dizer que um bêbado é mais feliz do que um sóbrio. A felicidade da credulidade é uma qualidade barata e perigosa."

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    1. Paulo, você pode provar que espírito não existe? Você pode provar que não existe nada além do corpo? Você ACREDITA que não exista, mas não pode provar e nem eu posso provar que existe.
      Cada um na sua, né?
      Não digo que o crente é mais feliz e nem que o cético e menos feliz. Só digo que, NO MEU CASO, ajudou a trabalhar esta minha visão das coisas e, com isso, a minha calma, confiança e paz.
      É só.
      Augusto Ferreira
      Valeu!
      Valeu!

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    2. O fato de que alguém, num momento de desespero, crie uma ilusão e se sinta bem nessa ocasião, não quer dizer que seja bom. Qualquer ilusão pode fazer a qualquer pessoa se sentir bem momentaneamente. É preferível viver num mundo imaginário a viver no mundo real? E ainda tem pessoas que afirma que isso faz bem? Tomem cuidado, por favor, a realidade é aquilo que por mais que deixes de acreditar, ainda vai seguir estando lá. Fugir da realidade com a imaginação, não pode ser solução para nada. A ilusão e um jogo. A verdade não é uma ilusão. A verdade não é subjetiva. Negar a verdade é simplesmente mascarar o problema psicológico. Crêem que o não aceitar a realidade é a solução? O bêbado é feliz, enquanto bêbado. Nunca é tarde para enfrentar a realidade. O sofrimento que podemos ter nesse caminho é simplesmente a desilusão. Se passarmos por isso, o advir é a lucidez.

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  11. Ao passar pela net encontrei seu blog, estive a ver e ler alguma postagens é um bom blog, daqueles que gostamos de visitar, e ficar mais um pouco.
    Eu também tenho um blog, Peregrino E servo, se desejar fazer uma visita.
    Ficarei radiante se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, saiba que sempre retribuo seguido também o seu blog. Deixo os meus cumprimentos e saudações.
    Sou António Batalha.

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  12. Gerardo Garrido, o que é VERDADE E REALIDADE/ILUSÃO?
    Se você tem essas respostas, divulgue para todo o mundo, pois a séculos, ou melhor, milênios os homens pensam, discutem e querem conhecer isso.
    Valeu!
    Augusto Ferreira

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    1. Augusto Ferreira
      Desculpe-me pela demora, é que só tive oportunidade de ver hoje o seu comentário.
      Ha milênios que o homem sabe como ver verdade, realidade e ilusão. Lamentavelmente tivemos o que é chamado de “idade das trevas”, graças às religiões organizadas.
      A palavra filosofia denota: aquele que anda junto com a verdade, ou amigo da verdade. A filosofia é base de todo o que tem a ver com a observação da verdade. Hoje chamamos isso de pensamento científico. Ter a capacidade de ver a realidade é algo natural no ser humano, tanto quanto a inteligência. Sendo a capacidade de observar a realidade, a base da inteligência.
      Vamos tentar simplificar.
      A compreensão é a única forma de observação que nos pode revelar a verdade. E para isso, a mente deve estar quieta e atenta. Para a mente estar quieta, não pode haver nenhuma perturbação que distraia esta. Para não haver perturbações devemos estar bem. E só podemos estar bem, quando não temos nenhuma necessidade fisiológica, nenhuma dor física, e não estamos pensando em nada. Neste momento, e com a mente atenta, a observação é. E esta é lúcida.
      Com respeito à verdade, é simples. A verdade é o que é, sem mais nem menos. O que existe é verdade. Que não possamos ver-la porque estamos perturbados pelos medos e necessidades particulares, não quer dizer que não exista ou possa ser desvirtuada pela mirar preconceituoso. Mas, por más que acharmos que podemos modificar-la, a verdade é o que é. E só o que existe é verdade. E não tem oposto. Porque o oposto à verdade seria a inexistência. E o que não existe não é.
      Da mesma forma a mentira. A mentira não existe. O que existe é o fato de mentir. Mas se o que está sendo dito é irreal, não existe. Ou seja, o que existe é o mentiroso, mas não a mentira. A verdade é a própria existência em movimento constante no eterno “presente”.
      Podemos assim concordar que se alguém está com dor, fome ou com preocupações de qualquer tipo, não consegue observar nada. Deve estar sadio, alimentado, resguardado, cerebralmente maduro, confiante e despreocupado para poder ter a possibilidade de enxergar a verdade, em silencio e atento. Porque a verdade está aí sempre.
      Com respeito à ilusão - e aproveitando para ver a realidade - a ilusão é uma realidade, mas não é verdade. Ou seja, a maioria das pessoas vive numa ilusão, isto é real, tem a ver com a realidade, mas não tem a ver com a verdade.
      Sabemos que com poucas palavras é difícil explicar algo tão profundo, más foi exprimido ao máximo, e sem dúvidas, e se existir interesse, podemos seguir esta conversação.

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    2. Oi Gerardo, obrigado pela visita e parabéns pelo texto. Muito legal de ler. Apenas uma observação. Mesmo estando "sadio, alimentado, resguardado, cerebralmente maduro, confiante e despreocupado" nosso cérebro nos engana e nos faz ver o que não é. As pareidolias e todas as ilusões sensoriais são exemplo disso. Nosso cérebro está cheio de vieses cognitivos. Assim, "enxergar" a verdade exige meios auxiliares de verificação (que a metodologia científica oferece). Bom, mas vc sabe isso. É mais ou menos a mudança que Galileu introduziu encima do pensamento aristotélico imperante.

      Abraço!

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    3. Roelf Cruz Rizzolo
      É lógico e indiscutível o que dizes. Mas o mínimo que nos podemos esperar de um ser humano para poder observar a verdade é estar “sadio, etc.. É indubitável que a tecnologia nos mostra o que nosso cérebro falha em mostrar. Mas o insight é humano. O pensamento cientifico faz isso. Perante qualquer coisa vemos o que todo mundo vê. Depois, deixando de lado o conhecimento, vemos alem. É a percepção do não conhecido. É como ir abraçando o novo.

      Abraços.

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    4. Gerardo, vc se refere provavelmente a mentalmente sadio? Imagina o Hawking. Visualizou uma "verdade" em meio a tanta limitação física. O próprio Darwin tb não era um exemplo de nada disso. Mas mesmo um esquizofrênico pode fazer grandes descobertas e criar modelos matemáticos que nos aproximam da verdade, mesmo que de forma temporária e aproximada (John Nash que o diga).

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    5. Roelf

      Quando estamos com dor, só podemos pensar em ficarmos sem dor. Quando a fome, queremos alimentar-nos ou encher a barriga. Se estivermos cansados queremos descansar. Se estivermos distraídos por nossas próprias necessidades ou de alguma forma perturbados, não conseguiremos concentrar-nos ou observar. O “estalo” (insight) sucede quando se está “bem”. Sem comparar com o estar bem dos outros. Se nos colocarmos no lugar de Hawking, possivelmente nos imaginaríamos preocupados por outras coisas. Mas ele deve de estar bem para poder compreender.
      Se dermos um brinquedo novo para uma criança, e este chamasse a atenção desta, o que ocorre é a total absorção da atenção, onde a criança esquece, assim seja por um instante, o que a fazia chorar. O resto do mundo desaparece para ela. Se tentarmos chamar-lhe a atenção com gestos ou palavras, resultará difícil de conseguir-se. Esse desejo de descoberta é natural no ser humano, só que com o tempo perdemos este “instinto”.
      Voltando ao assunto, se a pessoa for sadia sem dúvidas é melhor. Mas baseado no que foi dito, que a pessoa “deve estar sadia”, resguardando sempre a possibilidade, como seres humanos mortais, de estarmos doentes; mas nesse momento deve estar sadia. Deve estar “alimentada”, sabendo que a maioria das pessoas não sabe o que é isso, já que normalmente o que se come não é alimento. Deve estar “resguardada”, como possibilidade de um lugar seguro onde voltar e descansar, que seria uma preocupação a menos. Deve ser “cerebralmente maduro” porque todos os câmbios físico-químicos que acontecem desde o nascimento até a madures fisiológica, perturbam o nosso raciocínio, e muitas vezes nem mesmo assim conseguimos chegar a madures cerebral. Deve ser “confiante” onde a sua observação é sincera, lógica e sem preconceitos. Deve estar “despreocupada”, assim seja somente no momento da “epifania”. Resulta mais difícil a percepção da realidade quando estamos sofrendo de alguma coisa, mas não quer dizer que seja impossível. Imagino o próprio Einstein sendo judeu na Alemanha de começo de século, ter tido a capacidade de se abstrair aos problemas sociais.
      Também não tem porque ter perturbações físicas ou psicológicas para ser um gênio.
      Sabemos também que existem drogas que fazem a mente enxergar alguma coisa a mais. O problema e que o efeito passa e o cérebro fica mais perturbado.
      E se tivermos problemas incomuns e podermos ficar como as crianças com brinquedos novos, que seja.
      No momento da compreensão a mente deve estar quieta e atenta. Não existe outra forma de observar.
      OS: espero que no tome isto como algum tipo discussão desde algum ponto de vista. Estamos falando sobre a verdade e esta não é parte de um ponto de vista. Como deve saber, não é fácil falar sobre isto diariamente, e agradeço a oportunidade.

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  13. Entender o que é espírito não é fácil, principalmente aos focados na ciência (está fora do âmbito dela) e aos desinteressados no assunto, claro. Eu entendo que espírito é algo além da mente, e que aqui neste mundo e nesta vida parece ser apenas a mente. E entendo que o cérebro (ou mesmo a mente) pode funcionar como ponte ao espírito, e fazemos isso através da crença em uma religião e da fé.

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    1. Observador Jr
      “Entender o que é espírito não é fácil”. Primeiramente acho que o que pretendes chamar de espírito é o que se contrapõe ao corpo físico e que o chamam de lado imortal do ser, já que o outro lado seria o corpo ou lado mortal. Sem dúvidas podemos afirmar que o lado imortal individual não existe, porque somos mortais. Por sermos limitados física e mentalmente, nossa capacidade de conceber as coisas está dentro de limites. Não temos como falar de supostas coisas ilimitadas como deuses, espíritos, almas, ignorância, etc..
      Com respeito aos “focados na ciência”, devemos advertir-te que o mais perto da verdade que vais chegar, vai ser “focando-te na ciência”, e utilizando o método científico de observação, com um agravante: este método implica o eterno “aprender”.
      Com respeito ao “cérebro” que mencionas (que é físico), que “pode funcionar como uma ponte ao espírito”(que não existe), “e fazemos isso através da crença” (que é uma ilusão), “em uma religião” (que não tem nada de religião) “e da fé” ( que é aceitar sem razão algo incrível), parece que hás escolhido o caminho que o ser humano há seguido desde a idade da pedra e nunca o levou a nada alem do que incertezas, ilusão, ódio, dualidade, inveja, ciúmes, ignorância, brutalidade, esperança, fanatismo, sofrimento.
      Com respeito a “algo que existe alem da mente”, só poderás entender-lo quando realmente consigas ir alem da mente, alem do campo do conhecido; em silencio e atento; como se observa cientificamente.

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  14. Prof. Existe um pesquisador norte-americano que se dedica a pesquisar sobre estudos sobre religiosidade e saude. Em 2001, Harold Koenig publicou um livro Handbook of Religion and Health que traz muitos evidencias que sustentam o capa da revista citada. Att
    Patricia

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  15. Uma crente com título de psiquiatra não é um cientista.

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  16. Gerardo Garrido,
    verdade e ilusão nada mais é a percepção que o obervador tem de algo, alguma coisa, vida etc... Dizer o que você pensa não resume ser isso a verdade, mas a sua percepção sobre o que é verdade.
    A verdade é relativa e subjetiva. Por isso, não se resume ao seu texto ou o meu.
    Abraço
    Augusto Ferreira

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  17. Equivoquei-me. A realidade seria isso que escrevi anteriormente.
    A verdade seria aquilo que para você é sincero, puro e irretocável. Ela, no caso, é relativa e subjetiva também, tanto quanto a realidade.
    Esse é meu ponto de vista. A minha verdade.
    Augusto Ferreira

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  18. Nesse sentido, existem diversas realidades e verdades. Qual, então, seria a real realidade ou a verdadeira verdade?
    Sendo nós, seres humanos, limitados em nossas percepções, não existe, portanto, uma resposta que seja a correta. E, quando nos dizemos convictos sobre uma determinada resposta, quase, certamente, posso afirmar que estamos errados.
    Augusto Ferreira

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  19. Para terminar, indico um texto interessante sobre os problemas relacionados à ciência.
    Notas sobre percepção e interpretação em ciência, de CHARBEL NIÑO EL-HANI E
    ANTONIO MARCOS PEREIRA.
    REVISTA USP, São Paulo, n.49, p. 148-159, março/maio 2001
    Um olhar especial para "OS ESPELHOS DA PERCEPÇÃO".
    É só!
    Boa noite!
    Augusto Ferreira

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  20. Nada que pensamos é verdade. O pensamento sendo resultado da memória é sempre velho, nunca é novo, e por tanto nunca é livre. A experiência que se acumula no cérebro como memória é o conhecimento; e a reação a essa memória é o pensar. O pensamento é um processo material. Isso está cientificamente comprovado. O que estamos falando é alem do conhecimento, alem da memória. Onde a observação não é atrapalhada pelo ego. Onde a liberdade é, e com ela a inteligência. Porque a compreensão do novo no pode ser “através de”. Já observastes algo de forma verdadeira? Sem preconceitos?; sem a memória?; sem a palavra?. Conseguis mirar para alguma coisa sem que apareça o que conheceis dela? Porque se não conseguis, isto não é observar e sem comparar. Quando surge o nome, que é uma imagem, que é memória, acaba a observação. Devemos entender que a palavra se interpõe entre o observado e nos, atrapalhando a observação. Quando existe observação, não existe memória, porque a memória é o passado e a observação per se é nova. E a única coisa que pode fazer a memória perante o novo é comparar-se. E o resultado de essa comparação não é a verdade, senão ilusão. Porque nessa ação fazemos do novo algo conhecido. Ou seja, não é mais novo. Por que destruímos a beleza do novo agindo dessa forma? Por que simplesmente não ficamos com o novo? Por que damos tanta importância a o conhecido? Porque temos medo do desconhecido?. Porque o novo só pode ser desconhecido. E a beleza do novo é essa, não é velha. Pegamos o novo, que simplesmente sempre está vindo, o misturamos ao conhecimento, o digerimos e ficamos satisfeitos com o resultado, porque não abalou nossa segurança; nossa base. E o único resultado disso é o acumulo de conhecimento.
    Em algum momento intentem observar qualquer coisa sem o nome. Não porque está sendo dito por alguém, senão porque é assim. A situação é, estando bem, sem necessidades de qualquer espécie, sentar-se perante alguma coisa, como por exemplo uma flor, e observar sem o nome ou qualquer idéia referente a ela, como quando a obtiveram ou quem a trouxe ou o nome cientifico, etc.. Se conseguirem ficar sem o pensamento, sem esse barulho que o pensamento faz, ou seja, em silencio e atentos, isso é a verdadeira observação; isso é aprender no presente ativo. No é aprendi nem aprenderei. Nesse momento há liberdade de observação. E ao existir observação e liberdade, existe inteligência.
    Todas as pessoas já tem tido esta “experiência” muitas vezes. O problema é tomar consciência disso sem a utilização da memória, porque fomos ensinados a acumular memória e não a aprender. A mente que não está o dia todo escutando seu próprio barulho, é uma mente mais sadia. É uma mente sem preconceitos. É uma mente que, como diz o ditado popular, consegue vera alem do próprio umbigo.

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    1. Muito bom esse seu texto
      Concordo plenamente!
      A dificuldade de se aceitar o novo está em desapegar-se do passado, do conhecido, daquilo que pode alterar tudo, inclusive você mesmo.
      Vlw!
      Obg
      Augusto Ferreira

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    2. Augusto Ferreira
      Então, se a vida é um movimento constante, e não poderia ser de outra forma, esta se apresenta nova sempre. O movimento não seria desapegar-se do passado, porque o fato de desapegar-se, baseado numa decisão intelectual, implicaria estar ainda no processo da memória, da experiência, do conhecido. Para entrar no mundo do novo, do desconhecido, deveríamos estar livres do conhecido, sendo a única “forma” de isto acontecer é estando no âmbito da compreensão. Se compreendermos que as palavras, por exemplo, só servem para passar informação, e que no momento que não estão sendo utilizadas com esse motivo, realmente perturbam a observação; se compreendermos realmente, não intelectualmente senão internamente, com a mente, o coração e o corpo, sem duvidas, colocaremos a palavra, (que é parte da memória, da experiência , do conhecimento, do passado) no lugar que pertence, no lugar que deve ficar; no arquivo da memória; para ser utilizada no momento que for necessário. Porque a memória é limitada, e sempre será. E não importa o quanto possamos acumular conhecimento, sempre será limitada. Agora, a inteligência não é limitada. Porque só pode haver inteligência quando há liberdade. E sem dúvida, a liberdade não pode ser limitada. Só há liberdade quando não estamos presos a nada, nem sequer as nossas experiências e memórias; ou seja, nem presos ao ego. Aqui é que está a parte que mencionas de “alterar inclusive você mesmo”.
      A única forma de termos contato com a vida (o novo, a verdade, a liberdade) é através da inteligência.

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    3. Boa!
      Augusto Ferreira

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