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sábado, 4 de outubro de 2014

Podemos prevenir o mal de Alzheimer?

Quando em 1909 o psiquiatra alemão Alois Alzheimer descreveu pela primeira vez a doença que posteriormente levaria seu nome, pensou tratar-se de uma patologia extremamente rara. Infelizmente não seria assim. O mal de Alzheimer afeta mais de 36 milhões no mundo inteiro, sendo a maior causa de perda de função mental em pessoas com mais de 65 anos (estima-se que o número de afetados deverá triplicar até 2050). Entre 5 a 10% dos indivíduos nessa faixa etária sofrem da doença, sendo que essa proporção sobe para algo em torno de 10 a 15% na faixa dos 70, e para 30 a 40% na faixa dos 85 anos. Formas precoces também foram identificadas, com aproximadamente 2% dos casos diagnosticados ocorrendo entre os 30 e 50 anos.

O mal de Alzheimer é uma doença devastadora. Pela destruição de partes específicas do cérebro vai eliminando elementos básicos da nossa vida consciente e de nossa personalidade ao comprometer irreversivelmente funções cerebrais superiores como a memória, habilidades de linguagem, percepção de tempo e espaço e finalmente a capacidade de cuidar de nós mesmos.

Considerando que nossa sociedade vai envelhecendo graças aos progressos que levaram ao aumento constante da nossa expectativa de vida (e também de olho nos lucros) esforços enormes estão sendo realizados para encontrar um tratamento eficaz. Algumas drogas têm se mostrado promissoras em modelos animais e mesmo em estudos clínicos realizados em pequenos grupos de pacientes. Infelizmente tem se observado que tratamentos que pareciam promissores mostraram-se ineficazes quando os testes passaram a incluir uma parcela maior da população. Assim temos que reconhecer que, infelizmente, até o momento não sabemos nem quais são as causas deste mal nem como curá-lo.

Não havendo cura, os tratamentos disponíveis visam aliviar seus sintomas. A perda de memória e outras habilidades cognitivas parece estar relacionada com a diminuição de um neurotransmissor denominado acetilcolina. Assim, algumas drogas denominadas inibidores da colinesterase (a enzima que inativa a acetilcolina) têm mostrado um efeito positivo em alguns pacientes. Outras drogas já estão em uso e o médico deverá avaliar a relação entre os benefícios e os efeitos indesejados que elas podem causar.

Se bem ainda não sabemos o que causa o mal de Alzheimer conhecemos alguns fatores de risco a ele associados. O genético tem uma participação importante. Se um dos nossos pais tem a doença nosso risco de tê-la nalgum momento da vida aumenta 50%. Pesquisadores observaram que mutações em genes específicos (presenilin 1 e 2, e apolipoprotein E) estão relacionados com uma maior predisposição para desenvolver o mal. Outros fatores de risco incluem um histórico de depressão e até traumatismos cranianos, havendo uma predisposição genética. Já rumores que comumente circulam associando a doença à falta de zinco na nossa dieta ou a contaminação ambiental por alumínio carecem de confirmação científica.

Da mesma forma, alguns fatores parecem diminuir o risco de desenvolver a doença e poderiam servir de alguma forma para prevenir e aliviar alguns dos seus sintomas. De tudo o que foi pesquisado, aqui vão as melhores dicas, extraídas do ótimo blog Neurophilosophy (Mo Constandi):

1) Faça exercício físico regularmente. Lembre-se que o que é bom para seu corpo é bom para seu cérebro. Manter uma boa saúde cardiovascular melhora a irrigação do corpo todo diminuindo também as chances de AVE e diabetes.

2) Exercite seu cérebro. Existem evidências indicando que forçar a atividade mental mediante a leitura, quebra-cabeças, aprender um novo idioma ou tocar um instrumento pode adiar o aparecimento dos sintomas da doença por alguns bons anos. Pense no seu cérebro como se fosse um músculo, ou você o usa ou você o perde.

3) Permaneça na escola. Existem boas evidências indicando que quanto maior o nível educacional de uma pessoa menor o risco de desenvolver Alzheimer e melhores as chances de enfrentar a doença caso ela apareça. A educação formal de qualidade parece criar uma reserva cognitiva de forma que quando a doença começa a agir essa reserva permite manter um nível razoável de qualidade de vida.

4) Tenha uma dieta balanceada. Junto com o exercício físico, dieta corretar evita o ganho de peso desnecessário e ajuda a manter uma boa saúde cardiovascular. Das lendas urbanas que existem sobre o tema, não existem boas evidências sobre as vantagens de privilegiar o peixe ou suplementos à base de ômega três. Já a chamada dieta mediterrânea parece diminuir a velocidade do declínio cognitivo relacionado com a idade e reduzir o risco do mal de Alzheimer.

5) Fique motivado. Ter um projeto de vida parece ter um efeito neuroprotetor, embora não saibamos como isso funciona exatamente. Coloque um objetivo atingível e vá atrás, seja voltando à escola, seja aprendendo alguma atividade nova e diferente.

6) Durma bem. Problemas no sono são tanto causa como consequência de possíveis alterações no cérebro. Lembre, não dormir é pior que qualquer medicação para dormir.

É isso; é o que temos. Infelizmente ainda muito pouco. Mas os cientistas estão atrás de uma solução. Só eles poderão encontrá-la.

Fontes:
World Alzheimer Report 2014: Dementia and Risk Reduction