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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Experiências fora do corpo

As chamadas “experiências fora do corpo” (EFCs) vêm intrigando a humanidade há séculos. EFCs podem ser definidas como experiências subjetivas nas quais uma pessoa aparentemente consciente vê seu corpo e o ambiente desde uma posição afastada do seu corpo físico, como se estivesse flutuando. Uma experiência semelhante é a autoscopia, onde sem “sair” do nosso corpo, vemos uma projeção dele separada do corpo real. Essas experiências costumam ser descritas por indivíduos atravessando situações traumáticas como acidentes de carro ou durante cirurgias, mas foram também relatadas durante acidentes vasculares cerebrais, epilepsia, uso de drogas, paralisia do sono, entre outras.

Desde o ponto de vista místico/religioso a explicação é simples. Nosso espírito, uma entidade independente do corpo físico, nessas ocasiões simplesmente se separa, ou desencarna parcialmente, ou ocorre uma “projeção astral”, etc.

Já para a ciência, que não tem nenhuma evidência que justifique a existência de espírito, alma, ou consciência independente do cérebro, as EFCs são uma ótima oportunidade para fazer perguntas e entender um pouco mais sobre o funcionamento cerebral. Além do mais, EFCs podem fazer parte de doenças neurológicas e psiquiátricas, o que torna uma necessidade entender por que o cérebro cria esses estados.

Recentemente, pesquisadores europeus conseguiram o que parecia ser coisa de ficção científica, reproduzir EFCs em laboratório.

No início, isto ocorreu quase acidentalmente quando um grupo de neurocirurgiões tentava localizar focos epilépticos no cérebro de uma das pacientes. Para isto, estimulavam eletricamente áreas específicas do córtex cerebral. Estimulando uma região chamada giro angular
, um dos pesquisadores observou que sua paciente movia a cabeça para a direita. Intrigado, perguntou por que fazia isso e ela respondeu que tinha a estranha impressão que outra pessoa estava deitada embaixo dela. Essa pessoa não se mexia, nem falava, parecia ser um jovem que queria lhe impedir alguma coisa. Mudando a posição da paciente (agora sentada segurando seus joelhos) e estimulando novamente o giro angular, esta sentia a presença desagradável dessa imagem também sentada atrás dela, segurando-a. Quando tentou ler uma carta, a sombria figura tentava arrebatá-la das suas mãos, “Ele não quer que eu leia”, explicava a paciente ao médico.


Pelo fato da presença imitar a postura e posição da paciente, o pesquisador concluiu que o estímulo elétrico artificial se somava ao estímulo vindo dos olhos, articulações, etc., formando duas imagens do corpo, uma criada pela estimulação normal dos nossos sentidos no giro angular, e outra criada pela estimulação artificial na mesma região cerebral. Mas por algum motivo, a jovem não conseguia perceber que essa segunda imagem era um dublê do seu próprio corpo.


Já outra paciente ao ser estimulada na mesma região cerebral comentou alarmada “Estou no teto. Estou olhando minhas pernas penduradas lá embaixo. Que está acontecendo?”. A cada novo estímulo, a jovem começava a flutuar.

Os cientistas perceberam então que estavam estimulando uma área cerebral responsável pela formação de nossa imagem corporal. Para formá-la, essa região recebe informações sobre nosso corpo que chegam a partir dos órgãos dos sentidos. A imagem que vêem nossos olhos, a informação que vem do toque das nossas mãos, do cheiro, informações sobre nossa posição e movimentos captadas por músculos e articulações. Tudo de forma sincronizada. Quando tudo funciona bem temos a imagem normal do nosso corpo. Mas quando nosso cérebro recebe informações desencontradas, como no caso da estimulação elétrica artificial, se confunde.


Em lilás, o giro angular, uma das regiões do cérebro
 responsáveis pela formação da imagem do nosso corpo.



Em virtude desses resultados, os pesquisadores começam a acreditar que os relatos de EFCs obedeçam à estimulação anômala nesta área cerebral (giro angular). Isto poderia ocorrer devido a traumatismos e hemorragias (como decorrência de acidentes de carro), sob a ação de drogas que afetem o cérebro (anestésicos, entorpecentes, etc.), ao despertar (quando nosso cérebro recomeça a atividade), etc.

Como conseqüência destes novos descobrimentos os pesquisadores, mediante técnicas de realidade virtual, estão conseguindo agora projetar o “eu” de voluntários sadios em imagens virtuais dos seus próprios corpos. As implicações destes experimentos são inimagináveis. É possível que em breve possamos entrar realmente em personagens virtuais, como as que “vivem” no jogo Second Life. Sentir em nosso corpo real o que acontece a esses personagens no computador. Mas também, pelo mesmo princípio, um cirurgião poderá se projetar em sua imagem virtual localizada em outro hospital, em outro continente.

Assim, e bem ante do que se pensava, a neurociência começa a dar passos desconcertantes em direção a um dos grandes mistérios da humanidade: nossa consciência.

Fonte: 
Arzy, S., Seeck, M., Ortigue, S., Spinelli, L., Blanke, O., 2006. Induction of an illusory shadow person: Stimulation of a site on the brain's left hemisphere prompts the creepy feeling that somebody is close byNature, 443(21), pp.287.

7 comentários:

  1. Achei interessantíssimo essa situação. Uma situação fantástica para nós se, de fato, pudermos realizar algo que apenas imaginamos agora como sendo impossível. O que dizer então das experiências pessoais de ver e sentir presença de pessoas que já morreram e, quando mais, interagir com elas?! Será que em algum momento da história teremos alguma explicação científica?!

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  2. Oi Werneck. Provavelmente as lembranças das pessoas mortas estejam em nosso cérebro. Com frequência ativamos essas lembranças. Durante os sonhos interagimos com elas. Mas pelo que sabemos, é tudo atividade cerebral.

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  3. Achei importante essa reportágem. Não sei se é o cérebro, de fato, ou se é o espírito. No futuro a ciência achará o fio da meada. Já está a caminho.

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  4. Muito interessante a abordagem, esperemos o desenrolar deste tema, pois certamente muuuita coisa ainda será revelada! Grande abraço e parabéns! Continue com esse blog que está realmente interessante.

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  5. Tudo se separa, mas tudo também trabalha em ritmo de sintonia com o que precisa, sendo assim não se trata apenas do corpo(cérebro) contudo, também junto o espírito do ser que está em teste, que de fato está recebendo um estimulo. Somos mais complexos, sempre! O mais interessante é que para chegar onde queremos, precisamos unir todo o conhecimento e não apenas centraliza-lo, como uma única verdade antes do que cerca (possibilidades).

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  6. VOÇÊS CONTINUAM PROCURÂNDO A ALMA DE MODO MISTICO?!

    JÁ VIRAM? O FILME DOMINADOR DE CORPOS UM PACIENTE EM COMO PROFUNDO TEM UMA ADMINISTRAÇÃO DE DROGA NNZ - 4924 ESTIMULA O GIRO ANGULAR E LHE DÁ A CAPACIDADE ASTRAL DE SAIR DA CASCA.!

    OS APARELHOS QUE MEDEM A ATIVIDADE ELETROMAGNÉTICA DO CÉREBRO.!
    TAMBEM ESTÁ MEDINDO A PRESENSA DA ALMA ELETROMAGNÉTICAMENTE PRESENTE NO MUNDO FÍSISCO DA 3ª E DA 4ª DIMENSÃO.

    SOU RODDUS SOU UM RYOUKAI DRAGÃO

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