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sábado, 11 de junho de 2011

Sinal amarelo

Coma carne com moderação!
Fotografia: joefoxfoodanddrink/Alamy
Nesta última quinzena não pararam de acender os sinais amarelos. Perigo por todos os lados. O primeiro veio através da Organização Mundial da Saúde (OMS) e seu aviso sobre a possibilidade de telefones celulares provocarem tumores no cérebro. O segundo foi dado pelo Fundo Mundial para Pesquisa sobre o Câncer (World Cancer Research Fund , WCRF), uma das organizações internacionais mais importantes na área de prevenção do câncer, anunciando a forte correlação entre o consumo de carne vermelha e o surgimento de câncer de intestino. Finalmente, até as bactérias Escherichia coli, geralmente tão bem comportadas em nosso intestino, começaram a matar gente na Europa.

Mas, apesar de tantos alarmes, nada de novo. Parafraseando García Márquez, boa parte das notícias é quase que a “Crônica de uma morte anunciada”. Anunciada inclusive nesta coluna.

Sobre os telefones celulares, na edição de 16/08/2008 (Usar telefone celular aumenta risco de câncer?) já alertávamos:

“... Mas o fato que disparou o alarme foi um anúncio feito em julho deste ano pelo Diretor do Instituto do Câncer da Universidade de Pittsburgh (um dos mais importantes dos Estados Unidos), Dr. Ronald Herberman. O cientista, através de um comunicado interno enviado aos mais de 3000 funcionários do instituto, recomendou que a utilização de telefones celulares deveria ser reduzida em virtude do risco de câncer. Em seu informe o Dr. Herberman admite que as evidências ainda são insuficientes, mas afirma estar convencido que já existe a necessária informação que autorizaria emitir esse tipo de aviso. ...“ 


Não há muita diferença entre esse anúncio e o feito agora. A própria OMS ainda não publicou o estudo que lhe permitiria fazer esta comunicação, apenas um press release. Telefone celular aumenta o risco de câncer no cérebro? Não sabíamos em 2008 e não sabemos agora. Mas não custa tomar alguns cuidados, entre os quais evitar a utilização de telefone celular em lugares públicos -como ônibus- para não expor seus "vizinhos" à radiação que você provoca; não manter o celular perto do seu corpo durante a noite; restringir as chamada ao mínimo possível; tentar não utilizar o celular onde o sinal seja fraco ou quando estejamos nos movimentando em grande velocidade -como no carro, ônibus, trem- já que para encontrar sinal, o telefone usa mais (e emite mais) energia; usar alternadamente o telefone ora na orelha esquerda, ora na direita, para não concentrar a energia emitida em apenas uma parte do cérebro.

Sobre o perigo das bactérias, em fevereiro de 2009 comentávamos sobre o surto epidêmico da bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA, o perigo nos espera no mar, 21/02/2009). Agora parece ser uma cepa mutante de Escherichia coli, muito agressiva e resistente aos antibióticos a responsável pelo estrago. Por trás desses ataques bacterianos, geralmente encontramos nossa imprudência e irresponsabilidade, como já alertávamos em 2009:

“... Cada vez que utilizamos mal um antibiótico, seja por que ele não era necessário (doenças virais, como gripe e dengue, por exemplo, não respondem aos antibióticos), ou por que paramos de usá-lo antes da hora, ou por que o ingerimos sem saber nos alimentos como carne, leite, etc., estamos através de processos da seleção natural darwiniana selecionando, para nossa desgraça, as bactérias mais aptas...” 


Neste caso tivemos uma pequena mudança. A atual legislação sobre antibióticos é mais restritiva e estes agora só podem ser vendidos com receita médica. Mas suspeito que na indústria agropecuária continuamos a utilizar antibióticos sem o devido controle.

No terceiro sinal, em um relatório de mais de 850 páginas analisando 263 trabalhos científicos publicados até hoje sobre o assunto, cientistas do WCRF concluíram que existem evidências convincentes que indicam que o consumo de carnes vermelhas (boi, porco, cordeiro, carneiro) e carne processada como bacon, salsichas, linguiças, presunto, carne seca, e carnes usadas em enlatados, pizzas congeladas e em recheio de massas congeladas, está associado ao aumento de risco de contrair câncer de intestino.

Segundo um dos responsáveis pelo relatório, o professor Alan Jackson da Universidade de Southampton (Reino Unido), trata-se do estudo mais amplo e atualizado sobre o assunto já publicado. De acordo com o relatório, carne processada deveria ser simplesmente evitada e o consumo de carne vermelha reduzido a no máximo 500 g por semana.

Tantos perigos podem nos deixar bastante atordoados. A percepção é que são tantas as coisas que nos ameaçam que praticamente não podemos fazer nada que nos dê prazer. Mas não é bem assim. É necessário sempre analisar essas informações com bom senso. Há riscos que podemos evitar, outros não. A poluição do ar e o cigarro são cancerígenos. Para os paulistanos é impossível não aspirar o ar poluído da cidade, mas é possível parar de fumar. Para alguns, deixar de usar o telefone celular é algo hoje em dia bem difícil, mas impedir que as crianças estejam todo o dia com o celular na orelha é possível.

O importante é que estejamos sempre bem informados. O que fazer com essa informação dependerá em última instância da nossa responsabilidade e bom senso.

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