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sábado, 21 de junho de 2014

O dilema do homem gordo


(Por favor, leia tudo e vote ao final)

As redes sociais têm nos permitido confirmar algo que sempre soubemos: quanto os outros são imorais e como somos bons. Nesse pano de fundo de falta generalizada de ética, que tal uma pílula da moralidade? Algo que torne as pessoas assim, boas como nós. Será que algum dia a ciência inventará algo parecido? Isso é possível? Sim e não. Por quê? Bom, em parte porque a resposta para dilemas morais pode ser também sim e não.

Decisões de conteúdo moral são complexas. Filósofos têm estudado esse tema por séculos e agora os neurocientistas começaram a mexer nesse vespeiro.


Mas vamos a um exemplo filosófico clássico (este é do tipo moral-pessoal e, como verão, anterior à existência do “Politicamente Correto”).


Estamos numa ponte sobre os trilhos do trem. Sabemos que um vagão desgovernado passará por aí e matará cinco trabalhadores (li no Facebook que foram amarrados aos trilhos por militantes do PT; se deu no FB deve ser verdade). Ao nosso lado na ponte um homem muito gordo observa a paisagem sem nada saber. Se o empurramos sobre os trilhos, ele morrerá mas deterá o vagão. Empurrá-lo (salvando cinco pessoas mas ocasionando sua morte) seria uma decisão moralmente aceitável?

Existem algumas variantes desse dilema e escolas filosóficas têm se dividido quanto à decisão final, influenciando inclusive os sistemas jurídicos. Os utilitaristas (ver Jeremy Bentham, 1748-1832) são favoráveis a decisões que produzam o melhor resultado final. Neste caso seriam favoráveis a empurrar o homem gordo já que isso salvaria cinco pessoas. Outros como Immanuel Kant (1724-1804) argumentam que algumas ações, como matar uma pessoa inocente, são absolutamente proibidas, assim, não aceitariam sacrificar a vida de um para salvar cinco. 

Quando colocados ante esses dilemas indivíduos mentalmente saudáveis têm se dividido para um ou outro lado. Podemos assim quantificar aqueles que decidem uma coisa ou outra e correlacionar essa decisão com caraterísticas como idade, sexo, escolaridade, religião, nacionalidade, etc. Isto nos fornece parâmetros que podem ser analisados cientificamente. Mas pode a ciência palpitar sobre decisões que envolvem aspectos morais? 

De novo, sim e não. De fato, não há nada na metodologia científica que nos permita saber se algo é ético ou não. Aspectos éticos são decididos por indivíduos e sociedades. 

Por outro lado, decisões morais são decisões, e estas são produto –até que outras evidências surjam- da atividade do cérebro. Assim a decisão moral é produto da circuitaria cerebral, moldada pela genética, a evolução e a cultura.

Seriam então os conceitos éticos passíveis de manipulação mediante intervenção farmacológica? Uma droga poderia afetar sutilmente nossas decisões morais? 

Agora a resposta é sim. 

Em um estudo de 2010, pesquisadores analisaram a resposta de voluntários sadios ante dilemas morais como o descrito acima sob efeitos de citalopram, uma droga que aumenta a quantidade de serotonina no cérebro, e compararam os resultados com indivíduos que ingeriam placebo. Com mais serotonina, a decisão de empurrar o homem tornava-se mais condenável moralmente. Em outro estudo semelhante os pesquisadores testaram agora a droga lorazepam, um ansiolítico. Desta vez, a opção de empurrar tornava-se moralmente mais palatável.

Assim, como afirma a autora de um dos estudos, a pesquisadora Molly Crockett, algo parecido com a droga da moralidade pode já existir, mas o que não existe é uma unanimidade sobre o que é moralmente correto, pelo menos em determinadas circunstâncias. Pelos resultados destes experimentos, utilitaristas recomendariam o uso de lorazepam, mas os partidários de Kant o de citalopram. Claro, como as coisas não são nada claras a opção da droga da moralidade deve ficar, pelo menos por enquanto, no campo da ficção científica. 

Cérebros criam cultura e culturas criam normativas éticas que, em teoria, estão aí para assegurar o convívio harmonioso dos grupos, permitindo por sua vez a sobrevivência dos indivíduos (ou dos cérebros?). Parece ser uma boa ideia, por enquanto, deixar para lá as informações que nos vem da neurociência, dados perturbadores que apontam que o livre-arbítrio pode não passar de um mito e nosso conceito de moralidade o resultado de um equilíbrio instável de neurotransmissores. 

Parafraseando John Lennon, conhecimento pode ser uma arma quente, quente, quente.

Mas, qual a sua opinião sobre o dilema acima?
Caso tenha esquecido, aqui vai de novo.

Estamos numa ponte sobre os trilhos do trem. Sabemos que um vagão desgovernado passará por aí e matará cinco trabalhadores. Ao nosso lado na ponte um homem muito gordo observa a paisagem sem nada saber. Se o empurramos sobre os trilhos, ele morrerá mas deterá o vagão. Empurrá-lo (salvando cinco pessoas mas ocasionando sua morte) seria uma decisão moralmente aceitável?


Vote de 1 a 5, sendo que 1 significa "completamente inaceitável", e 5 "absolutamente justificável"
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3 comentários:

  1. Esta brincadeira é muito estranha. Tem a pergunta de que se “a decisão de matar alguém seria normalmente aceitável”. Dentro do normal, num mundo competitivo e preconceituoso, seria normalmente aceitável. Mas ao votar determina se é “absolutamente justificável”. Que seja aceitável não quer dizer que seja justificável.
    Alguém que não tenha o instinto de um assassino não mataria um ser humano. Uma pessoa com dignidade poderia sacrificar-se, mas não mataria outro ser humano.
    Na responsavilidade, não é necessária a moral social como base. Não é preciso determinar que no se deva roubar, matar ou mentir, para que uma pessoa digna tenha que seguir como ordem preestabelecida. Esta é a própria natureza de um livre pensador. Se devermos seguir preceitos como não roubar, quer dizer que, se não nos indicam o caminho, vamos roubar? Se roubarmos é porque dentro de nos existe este tipo de atitude. Atitude esta baseada na inveja, ciúmes, ambição, cobiça, vantagem e medo. Resulta desagradável que neurocientistas se preocupem com esta estupidez. É como se ainda existirem vestígios ideológicos nestes cientistas.

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    1. Oi Gerardo. Este tipo de dilema vem da área da filosofia. Existem algumas variáveis que mudam o grau de ação do agente (empurrar o homem gordo, ativar uma alavanca, etc.). Olha aqui http://en.wikipedia.org/wiki/Trolley_problem .
      Pelo fato de existirem diversas respostas possíveis (este não é um teste certo - errado, por isso é um dilema), o que a neurociência estuda é como abordagens farmacológicas são capazes de alterar este tipo de decisão. Não ha ideologia nenhuma.
      Abraço e obrigado pela visita!

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  2. É que parece com a proposta de Pascal, como se intentasse encurralar a pessoa eloqüentemente. Pode ter saído da filosofia, mas sem dúvida não se refere a esta.

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